Liberdade Religiosa (Capítulo 1)

CAPÍTULO 1

LIBERDADE RELIGIOSA – RELACIONADA COM AUTOCRACIA

Na natureza das coisas não há lugar legal para a dominação de outros na vida e nos negócios do indivíduo. Isso é peculiar e supremamente do domínio de DEUS somente, que criou o homem a Sua própria imagem e para a Sua própria glória; cada pessoa é individual e pessoalmente responsável; tendo que dar contas somente a ele.

Contudo, o homem, pecador e rebelde, nunca esteve disposto a permitir que DEUS tivesse o Seu lugar em e com a alma do homem individual; tem sempre sido ambicioso, pronto para reivindicar esse lugar para si mesmo, e tentado por todos os meios e instrumentalidades possíveis para tornar essa reivindicação efetiva. A própria história, no que se refere aos princípios gerais, dificilmente seria algo mais do que uma sucessão de tentativas na maior escala possível de tornar bem sucedida essa arrogante reivindicação do homem pecador e rebelde de colocar-se no lugar de DEUS para dominar as almas dos homens. Nenhuma demonstração maior de que há uma divindade empenhada intensamente em moldar o destino da humanidade poderia jamais ser requerida ou dada do que desde o tempo de Abel até agora é dada na permanente e heróica asserção e manutenção dessa perfeita liberdade do indivíduo contra as sutis pretensões e poderosas combinações de força e poder que este mundo poderia possivelmente arquitetar. De Ninrode para Nabucodonosor e de Nabucodonosor até agora o curso e energia do império tem sido inclinado e exercido para esta única coisa. Ao longo de todo esse tempo, indivíduos tão magníficos como Abraão, José, Moisés, Daniel e seus três companheiros, Paulo, Wycliff, Huss, Militz, Matthias, Conrado, Jerônimo, Lutero, Roger Williams e multidões de nomes não lembrados, e acima de todos JESUS CRISTO, por divina fé têm sublimemente permanecido sós com DEUS , absolutamente sós no que concerne ao homem, pela individualidade e, nessa, a liberdade da alma do homem, e pela soberania de DEUS somente em e acima do território da alma.

O Império de Babilônia abrangia o mundo civilizado, como era então o mundo. Nabucodonosor foi monarca e governante absoluto do império. “Tu, ó rei, rei de reis, a quem o DEUS do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem, e os animais do campo e as aves dos céus, para que dominasses sobre tudos eles”. Daniel 2:37,38.

Em seu próprio propósito providencial DEUS havia feito todas as nações sujeitas ao domínio do Rei Nabucodonosor de Babilônia. Jeremias 27:1-13 . Na forma e sistema do governo de Babilônia, a autoridade do rei era absoluta. Sua palavra era lei . Nesse absolutismo de soberania, o Rei Nabucodonosor presumia ser o soberano das almas, bem como dos corpos, da vida religiosa, bem como da conduta civil daqueles que eram sujeitos ao seu poder. E uma vez que era o governante das nações, seria regente na religião, e da religião das nações.

Nesse sentido, ele fez uma grande imagem, toda de ouro, com cerca de trinta metros de altura e três de largura, e “levantou-a no campo de Dura, na província de Babilônia” . Então convocou das províncias todos os oficiais do império para a dedicação e culto da grande imagem de ouro. Todos os oficiais vieram, e reunidos postaram-se diante da imagem.

Nisto o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: No momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles, e de toda sorte de música, vos prostrareis, e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. Qualquer que se não prostrar e não a adorar, será no mesmo instante lançado na fornalha de fogo ardente”. E quando os instrumentos musicais soassem o grande sinal para a adoração, todas as “nações e homens de todas as línguas” se prostraram para adorar a imagem de ouro. Daniel 3:4-6.

Mas na assembléia haviam três jovens hebreus que tinham sido levados cativos de Jerusalém para Babilônia, mas que haviam sido designados pelos oficiais do rei sobre os negócios da província de Babilônia. Esses não se inclinavam nem adoravam, tampouco prestavam qualquer atenção particular ao que se passava.

Isso foi observado e despertou acusação perante o rei. “Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócio da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti, a teus deuses não servem, nem adoram a imagem de ouro que levantaste”. Daniel 3:12.

Então o rei “irado e furioso” ordenou que os três jovens fossem trazidos perante ele. Isso foi feito. O próprio rei agora falou -lhes direta e pessoalmente: “É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses nem adorais a imagem de ouro que levantei?” O próprio rei então repetiu a ordem de que ao som dos instrumentos de todo tipo de música eles se baixassem e adorassem, caso contrário seriam “no mesmo instante lançados na fornalha de fogo ardente”.

Mas os jovens responderam tranqüilamente: “Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso DEUS, a quem servimos, quer livrar-nos, Ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos,

  • rei. Senão, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste”. Daniel 3:16-18.

A questão estava agora claramente estabelecida. O soberano da maior potência mundial havia pessoalmente expressado a sua ordem diretamente aos três indivíduos; e deles havia recebido resposta declarada de que não se sujeitariam.

Aquela era uma conduta, e aquelas eram palavras tais como o rei em seu absolutismo de poder jamais tinha deparado. Havia, portanto, um ressentimento pessoal, bem como oficial, nele despertado; e estava tão irado que ficou “transtornado o aspecto do seu rosto” contra os jovens, e ordenou que a fornalha fosse aquecida sete vezes mais do que o costumeiro; e que “os homens mais poderosos que estavam no seu exército” amarrassem os jovens e os lançassem no meio da fornalha ardente.

Assim foi feito. E os três homens, “foram atados com os seus mantos, suas túnicas e chapéus, e suas outras roupas . . . caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa”. Mas foi então que o rei ficou mais assustado do que nunca ficara na vida, e “se levantou depressa” gritando aos seus conselheiros: “Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo?”

Eles lhe asseguraram que isso era verdade. Mas ele continuou: “Vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses”.

Então o rei aproximou-se da entrada da fornalha e chamou os homens por seus nomes, dizendo: “Servos do DEUS Altíssimo, saí e vinde!” Eles, então,

saíram do meio do fogo . Ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores e conselheiros do rei, e viram que o fogo não teve poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles”.

Falou Nabucodonosor, e disse: Bendito seja o DEUS de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo, e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar os seus corpos, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão só seu DEUS”.

Aqui, pois, está a situação: O SENHOR havia trazido todas as nações em sujeição ao rei de Babilônia. Pelas mensagens de seu próprio profeta ele havia ordenado a seu povo, os judeus, e àqueles três jovens entre eles, a servirem “ao rei de Babilônia”. Contudo, os três haviam explicitamente recusado servir ao rei de Babilônia naquele pormenor que ele próprio pessoal e diretamente lhes ordenara; e nessa recusa, o SENHOR mesmo havia muito significativamente permanecido do lado deles, livrando-os.

Portanto, seria impossível demonstrar mais claramente que o SENHOR, ao ordenar o povo a sujeitar-se ao rei de Babilônia para servi-lo, jamais havia ordenado ou intencionado que devessem sujeitar-se a ele para servi-lo no campo da religião.

Por essa indiscutível aprovação da atitude dos três homens e espetacular libertação deles, o SENHOR tornou perfeitamente claro ao rei que sua ordem nessa questão estava errada; que este rei havia requerido um culto que não tinha o direito de exigir; que ao torná -lo rei das nações o SENHOR não o havia tornado rei na religião do povo; que ao conduzi-lo à liderança das nações, povos e línguas, DEUS não lhe havia dado ser líder da religião mesmo de um único indivíduo; que conquanto o SENHOR houvesse trazido todas as nações e povos sob o jugo do rei quanto a seu serviço político e físico , e s s e m e s m o S E N H O R h a v i a indiscutivelmente demonstrado ao rei que não lhe havia conferido poder nem jurisdição de qualquer maneira que fosse quanto ao serviço de suas almas; que conquanto em todas as coisas entre nação e nação, e entre homem e homem, todos os povos, nações e línguas haviam-lhe sido dadas para servi -lo, mas embora DEUS o houvesse tornado governante sobre eles todos; contudo o rei não podia ter nada a ver com as relações entre cada homem e DEUS; e que na presença dos direitos da pessoa individual, em consciência e culto, “a palavra do rei” deve mudar, o decreto do rei é nulo; que nisso mesmo o rei do mundo é apenas um ninguém, pois aqui somente DEUS é soberano e tudo em todos.

E para a instrução de todos os reis e todos os povos para sempre, tudo isso foi feito naquele dia, e foi escrito para nossa admoestação, a quem os fins dos tempos são chegados.